Ciberdebates 2013: Interesse público x interesse do público. Foto: Farley Brasil. |
O que faz
uma notícia ser publicada com o título “Caetano Veloso estaciona
carro no Leblon nesta quinta feira?” Quais os critérios de
noticiabilidade são utilizados nas publicações? Esses e outros
questionamentos estiveram em pauta, dia 11 de abril, durante o
Ciberdebates 2013, evento semestral realizado pelos estudantes do
curso de jornalismo da Universidade de Fortaleza.
A questão
sobre como se tornar notícia foi discutida pelo editor do portal
Tribuna do Ceará, Hélcio Brasileiro; o professor do curso de
jornalismo da Faculdade 7 de Setembro e pesquisador de ambientes
digitais, Rafael Rodrigues, e o editor do Diário do Nordeste Online,
Gustavo Negreiros.
A
importância em discutir a cibercultura e o jornalismo digital dentro
da própria Universidade foi enfatizada pelo professor Rafael
Rodrigues. De acordo com o pesquisador, a ideia do Ciberdebate é um
tópico necessário, pois o interesse do público muda
constantemente, sendo o campus um espaço para reflexão. “Essa
discussão deve ser feita no âmbito da Universidade. Aqui tem
condição de sempre recolocar e sempre trazer a questão e atualizar
essa discussão”, ressalta.
Entrevista
na íntegra com Rafael Rodrigues:
Lucas
e Airton: Qual a importância de trazer esse debate para as
universidades?
Rafael
Rodrigues: “Acho muito oportuno que a gente possa discutir essa
relação do jornalista com o público, ou públicos. A relevância
disso está mesmo na necessidade de discutir um novo perfil
profissional que o jornalista vai assumir e tende a assumir. Porque
ele não está mais sozinho, ele precisa dessas pessoas, mas essa é
uma relação conflituosa e é uma relação que detém muitas
lacunas. Então eu penso que o Ciberdabate de hoje foi em um ponto
muito urgente, que a gente precisa está discutindo e rediscutindo.
Porque essa ideia de um público, ou de públicos ela é muito
volátil, como ondas que vão e vem e essas preferências mudam,
então essa discussão deve ser feita no âmbito da Universidade.
Aqui tem condição de sempre recolocar e sempre trazer a questão e
atualizar essa discussão. Fora
isso, o evento foi super bem organizado, os convidados foram bem
escolhidos: gente de mercado, da academia. Acho que tudo isso fez o
sucesso da iniciativa”.
L e A:
É possível separar o que é de interesse público e do público?
R.R:
“Essa divergência de interesses da empresa jornalística e do
público, ou desses públicos, enfim, do usuário, como você queira
chamar, essa divergência ela é constitutiva do jornalismo, ela é
histórica. Está sendo reinventada pela internet porque o usuário
ganha uma autonomia para dizer que está insatisfeito com a
cobertura, que o apresentador é feio, ou bonito, ou que essa matéria
está muito mal feita. A voz está se ouvindo hoje, quer dizer, a voz
se tornou audível, mas as divergências já existiam desde às
cartas do leitor, quando o cara perdia o tempo dele escrevendo para
dizer que não concordava, ou concordava com a Veja, ou não sei
quem. Essa divergência é constitutiva do jornalismo porque o
jornalismo nunca vai ter condições de servir como retrato fiel da
sociedade, ele sempre vai promover recortes, simplificações. O
nosso papel como jornalista é tentar minimizar essas simplificações,
ou tentar tomar uma posição mais clara em relações a esses
conteúdos. Então eu vou dizer: “Eu quero fazer segmentação, eu
quero fazer esse tipo de conteúdo para esse público, então vou
correr o menor risco de, por exemplo, deixar de dar uma notícia
importante se eu me foco, ou me concentro em um segmento específico.
Eu não estou dizendo que a segmentação é a solução para os
males do jornalismo e nem vai resolver esses problemas de convivência
com o público. Mas é uma maneira de a gente procurar amenizar,
prestar um serviço de melhor qualidade para esse público.” A
colaboração é outra saída, a colaboração responsável,
coerente, qualificada. Pode dar ao jornalismo um status mais
interessante, um status mais próximo desse público. Por exemplo:
“Eu vou escrever uma matéria sobre física quântica, eu não sei
nada sobre o assunto. Se eu tenho um especialista que colabora
comigo, como o jornalismo sempre fez, procura as pessoas que sabem
sobre o assunto, um professor... A gente minimiza esses problemas, ou
pelo menos, consegue tornar esse assunto mais compreensível para o
público.” Na verdade é difícil achar uma resposta para essa
pergunta, mas eu penso que tem alguns pontos de luz que a gente pode
seguir.”
Reportagem: Lucas Pessoa e Airton Baquit
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