quinta-feira, 13 de março de 2014

Entrevista com os debatedores


Entrevista com Magela lima:
Você faz alguma associação do rolezinho com as manifestações de protesto ocorridas em 2013 no Brasil?

Não vejo nenhuma relação com a onda de protestos. O Brasil estava muito tempo sem protestar, nos dez anos de PT, o MST que era um ícone na mobilização de massas no país, deu uma sumida do mapa, então ficamos dez anos sem protestar, então tudo passa a ser ressonância daquele protesto de 2013, mas pra mim os rolezinhos são experiências de encontros, de afetos, de ocupação de espaço, não tem uma provocação política, contestatória.

O rolezinho surgiu por causa da Cultura Funk e suas músicas de ostentação e luxúria defendidas por ela. Para você essa onda de moda do funk se dá pela falta de uma educação e de uma cultura menos superficial no País?

O Funk também é cultura. A gente não pode pensar que o funk é uma cultura equivocada, que o forró é uma cultura equivocada, que o bom é só música erudita e artes plásticas. Isso não existe, não existe um efeito, uma teoria das balas mágicas, uma comprovação de que se é reflexo do que se consume. Eu posso ser professor universitário e gostar de funk, por quê não? Posso morar na favela e gostar de música clássica. Não acho que tenha ligação direta entre o funk ostentação e os rolezinhos.

O rolezinho é bom para se pensar o Brasil ?

Penso que nos encontros funcionamos melhor do que de forma isolada e o rolezinho é um encontro, e está colocando uma série de questões, como por exemplo, quem é esse novo jovem no Brasil, como é que se dá o uso público dos espaços privados, etc. Imagino e vejo os rolezinhos mais como experiência de encontro e afeto do que de uma manifestação, para mim o que eles estão querendo dizer é “a gente quer se encontrar, a gente quer se ver, quer sair da internet e quer ficar junto”. O recado é esse, mas evidentemente que a reação equivocada ao rolezinho coloca uma série de questões, como “por que é um crime, o que eles fizeram de errado”. Tudo isso o rolezinho acionou, mas vejo isso da forma mais simples possível.

Por que esse fenômeno se tornou um assunto tão falado nos jornais de todo o País?

Por falta de pauta. Penso que os jornais não estão preparados para entender essa experiência contemporânea, como disse, ficamos muito tempo sem grandes eventos massivos, então hoje, qualquer aglomeração de 50 pessoas é um problema, mas não é! Por que eu não posso ir pro shopping, ou parque ou centro da cidade com 100 amigos? Acho que o problema está na criminalização desse encontro. E não no encontro em si. A princípio ele não mobilizou nada, não aconteceu nada, para mim é apenas o encontro de pessoas.

Entrevista Preto Zezé:

Como você explica os rolezinhos?

Os rolezinhos são os jovens da periferia querendo mostrar a cara, eles também querem ser vistos. Durante muito tempo os meninos das comunidades só foram vistos de forma marginalizada, agora que eles tem acesso a economia eles querem poder mostrar o que eles tem, quando esses jovens da periferia entram nos mesmos espaços da classe média, isso gera conflitos.

Como você analisa a influencia das redes sociais nos rolezinhos?

As redes sociais servem como incubadora dessas manifestações, A molecada de hoje ta dentro das redes sociais, e isso faz com que eles também se mobilizem. Trabalho com música, e sei como as redes facilitam as comunicações. As redes sociais são uma ferramenta incrível, mas podem servir tanto para o bem como para o mal.

 Qual a importância desse debate na no meio acadêmico?

Esse é um espaço privilégiado, de certa forma aqui é onde são formadas as lideranças da cidade, e poder trazer discussões e opiniões plurais é importante.

Entrevista Luis Fábio Paiva;

Como você entende a influência das redes sociais nesses eventos?

Nos últimos anos os mais pobres tem aumentado seu acesso as redes sociais, lá eles podem se comunicar e se mobilizar. Mas esse espaço, também é um reflexo da sociedade que vivemos, nas redes sociais as pessoas estão todas misturadas e assim como na sociedade os indivíduos são expostos ao estilo de vida capitalista o que estimula esses jovens a querer participar do processo de consumo.

Como você explica a repercussão que esses eventos tiveram?

Por alguns aspectos de novidade. A sociedade, principalmente a classe média, tomou um susto com esses eventos, e a mídia que é composta por pessoas dessa classe não soube lidar com essa novidade.

Como o senhor faria um traçaria um perfil desses jovens?

São jovens da periferia que querem buscar mais espaço na sociedade, mesmo que esse espaço seja os meios de consumo. São jovens que sempre foram estimulados a buscar o consumo e o prazer, mas nunca tiveram acesso, agora eles tem. Não acho que eles tenham intenções políticas, porém devemos refletir politicamente esses eventos, pois eles falam muito das mudanças pelas quais nossa sociedade tem passado.

Qual a importância desse debate no meio acadêmico?

A universidade é o local mais adequado para essas discussões, é sempre importante debater os assuntos atuais com várias visões diferentes.


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