terça-feira, 16 de abril de 2013

Professor de comunicação, Rafael Rodrigues, discute a relação entre o jornalista e o público

Ciberdebates 2013: Interesse público x interesse do público. 
Foto: Farley Brasil.
O que faz uma notícia ser publicada com o título “Caetano Veloso estaciona carro no Leblon nesta quinta feira?” Quais os critérios de noticiabilidade são utilizados nas publicações? Esses e outros questionamentos estiveram em pauta, dia 11 de abril, durante o Ciberdebates 2013, evento semestral realizado pelos estudantes do curso de jornalismo da Universidade de Fortaleza.

A questão sobre como se tornar notícia foi discutida pelo editor do portal Tribuna do Ceará, Hélcio Brasileiro; o professor do curso de jornalismo da Faculdade 7 de Setembro e pesquisador de ambientes digitais, Rafael Rodrigues, e o editor do Diário do Nordeste Online, Gustavo Negreiros.

A importância em discutir a cibercultura e o jornalismo digital dentro da própria Universidade foi enfatizada pelo professor Rafael Rodrigues. De acordo com o pesquisador, a ideia do Ciberdebate é um tópico necessário, pois o interesse do público muda constantemente, sendo o campus um espaço para reflexão. “Essa discussão deve ser feita no âmbito da Universidade. Aqui tem condição de sempre recolocar e sempre trazer a questão e atualizar essa discussão”, ressalta.

Entrevista na íntegra com Rafael Rodrigues:

Lucas e Airton: Qual a importância de trazer esse debate para as universidades?

Rafael Rodrigues: “Acho muito oportuno que a gente possa discutir essa relação do jornalista com o público, ou públicos. A relevância disso está mesmo na necessidade de discutir um novo perfil profissional que o jornalista vai assumir e tende a assumir. Porque ele não está mais sozinho, ele precisa dessas pessoas, mas essa é uma relação conflituosa e é uma relação que detém muitas lacunas. Então eu penso que o Ciberdabate de hoje foi em um ponto muito urgente, que a gente precisa está discutindo e rediscutindo. Porque essa ideia de um público, ou de públicos ela é muito volátil, como ondas que vão e vem e essas preferências mudam, então essa discussão deve ser feita no âmbito da Universidade. Aqui tem condição de sempre recolocar e sempre trazer a questão e atualizar essa discussão. Fora isso, o evento foi super bem organizado, os convidados foram bem escolhidos: gente de mercado, da academia. Acho que tudo isso fez o sucesso da iniciativa”.

L e A: É possível separar o que é de interesse público e do público?

R.R: “Essa divergência de interesses da empresa jornalística e do público, ou desses públicos, enfim, do usuário, como você queira chamar, essa divergência ela é constitutiva do jornalismo, ela é histórica. Está sendo reinventada pela internet porque o usuário ganha uma autonomia para dizer que está insatisfeito com a cobertura, que o apresentador é feio, ou bonito, ou que essa matéria está muito mal feita. A voz está se ouvindo hoje, quer dizer, a voz se tornou audível, mas as divergências já existiam desde às cartas do leitor, quando o cara perdia o tempo dele escrevendo para dizer que não concordava, ou concordava com a Veja, ou não sei quem. Essa divergência é constitutiva do jornalismo porque o jornalismo nunca vai ter condições de servir como retrato fiel da sociedade, ele sempre vai promover recortes, simplificações. O nosso papel como jornalista é tentar minimizar essas simplificações, ou tentar tomar uma posição mais clara em relações a esses conteúdos. Então eu vou dizer: “Eu quero fazer segmentação, eu quero fazer esse tipo de conteúdo para esse público, então vou correr o menor risco de, por exemplo, deixar de dar uma notícia importante se eu me foco, ou me concentro em um segmento específico. Eu não estou dizendo que a segmentação é a solução para os males do jornalismo e nem vai resolver esses problemas de convivência com o público. Mas é uma maneira de a gente procurar amenizar, prestar um serviço de melhor qualidade para esse público.” A colaboração é outra saída, a colaboração responsável, coerente, qualificada. Pode dar ao jornalismo um status mais interessante, um status mais próximo desse público. Por exemplo: “Eu vou escrever uma matéria sobre física quântica, eu não sei nada sobre o assunto. Se eu tenho um especialista que colabora comigo, como o jornalismo sempre fez, procura as pessoas que sabem sobre o assunto, um professor... A gente minimiza esses problemas, ou pelo menos, consegue tornar esse assunto mais compreensível para o público.” Na verdade é difícil achar uma resposta para essa pergunta, mas eu penso que tem alguns pontos de luz que a gente pode seguir.”

Reportagem: Lucas Pessoa e Airton Baquit

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